17 de novembro de 2010

Lugar da Estrada

Dançámos no domingo 14 de Novembro numa simpática povoação perto de Peniche, chamada Lugar da Estrada (o pavilhão até tinha o excelente gosto de ser do Sporting!). O senhor António Pinto enviou-me algumas fotografias sobre o evento que com gosto divulgo.


Tão agradável quanto o prazer de dançar, é a alegria que sentimos da parte destas pessoas simples, que, sem se aperceberem do papel que para nós representa esta oportunidade de alargar o convívio através da dança a situações sem o stress da competição, e alheias aos erros e omissões que a descontracção por vezes acarreta, se comprazem a ver aquilo que no seu íntimo, gostariam de fazer.

António Salgueiro filmou, e o sr Pinto mandou-me o link.



Foi com gosto que estivemos com eles, no entanto tentando compatibilizar a minha respeitável barriga com a dança, confesso que passei ao lado dos doces (mas houve quem me substituísse... e bem!)

19 de julho de 2010

As lições de Espinho

Levei, no passado sábado, duas lições. A primeira, e a mais esperada, é a de que não há milagres, e um sexagenário metido com “jovens trintões” e quarentões numa actividade exigente para a qual não tem grande vocação, se arrisca ao desastre. A segunda, é que há sempre algo de novo a aprender, e mesmo da pior catástrofe se podem construir ideias positivas.

O Espinho Open foi uma competição de enorme envergadura, onde tive o privilégio de participar.
Dois universos bem distintos (os IDSF e… os outros) cruzaram-se e coexistiram durante 14 horas, numa maratona em que os maiores galardões deveriam ir para os organizadores e estrutura técnica, pela resistência.
Foi bonito de ver, e de viver.
Não foi tão bonito perceber que o evento não escapou às tricas de capelinha, fruto da menoridade mental de alguns dos poucos, reais ou pretensos, “senhores da dança” em Portugal.
E, de repente, a inesperada lição.
Estava de regresso à bancada, depois de, durante duas horas e meia, ter desopilado numa caminhada através da feia Espinho, quando, disposto a apreciar os mestres, deparei, no corredor à minha frente, com uma cena curiosa:
Um dançarino a aguardar a meia-final IDSF de Clássicas, enquanto na pista se dançava a rumba, começou a fazer leves movimentos numa clara intenção de relaxamento e descompressão. O seu par colou-se, acompanhou-lhe os movimentos, e produziu o mais espantoso momento da noite. Aquilo não era nada… Não era rumba, nem valsa inglesa, não era slowfox nem sequer “slowwolf”.
Não havia planos nem regras, não havia técnica nem expressão, não havia postura nem atitude – os corpos iam na doçura da música, ele movendo-se ao sabor do improviso, ela replicando o movimento, algo entre sombra e reflexo, apenas com a suave movimentação da cabeça dando elegância e sentido ao nada que estavam a fazer.
Por inspiração, hábito, ou apenas porque sim, os movimentos dele eram aqueles que a cabeça dela sugeria, numa identificação, numa simbiose, apenas sintetizáveis na palavra prazer.
O deleite durou menos de um assombroso minuto, e quando ganhei coragem para chamar a atenção da Fernanda esfumou-se com a suavidade com que surgiu, garantindo-me o exclusivo da sua fruição.
Quando, mais tarde, a outra esperada lição me levou a equacionar se não teria chegado a inevitável hora do “era bom mas acabou-se”, a segunda varreu de imediato qualquer dúvida – está na hora de ir ao reencontro das origens.
Entrei na dança pelo prazer da dança, e pela oportunidade de partilhar com a Fernanda uma actividade de que ela gosta, no mínimo, o mesmo que eu.
A passagem à competição veio depois e naturalmente, por influências do grupo, e foi extremamente importante, pelo nível de exigência que a nós próprios tivemos que fazer.
Pressionados pelos resultados esquecemos o ponto de partida, e concentrámos no “trabalho” todos os esforços. Tinha mesmo que ser, pois só o muito trabalho permite, na segunda metade da vida, chegar perto daquilo que, na idade da aprendizagem se consegue natural e espontaneamente.
A verdade, no entanto, é que ao ver aquele par holandês a viver o momento, me questionei a mim próprio onde iam já os tempos em que era aquilo, exactamente aquilo, que eu buscava na dança.
Não. Ainda não está na hora.
Antes de parar, ainda falta regressar às origens, recuperar o prazer da dança sem exigências, mas tentá-lo na situação aparentemente paradoxal de o fazer sem prescindir do nível de melhoria que sustente a continuidade neste grupo a que não pertenço mas onde me sinto bem.
Aí está um desafio novo para os próximos treinos. Obrigado, Hem Spilker & Darja Bokhove, o vosso 17º lugar foi a mais gritante das injustiças – eu dei-vos o primeiro.
Só que para vosso ( e meu) azar… eu não conto.

5 de julho de 2010

Museu Malhoa

Já no ano passado tínhamos dançado no Museu Malhoa - nada de especial, algum público que se empilhava de encontro a paredes nuas, e nós no meio, a tropeçar uns nos outros para não atropelar o corajoso público.
Desta vez foi diferente - menos público, segura e confortavelmente sentado num topo de um sala... uau!
O espaço continuava a ser pequeno, mas a arte a voltear à nossa roda, a dignidade impressiva do ambiente, foram inesquecíveis.
Cometemos um erro - não contando com a mudança de espaço, apresentámos apenas danças latinas, quando o ambiente "exigia" fatos formais e danças clássicas.
Em Agosto faremos nova apresentação, e não estando ainda definidos os pares que nos representarão, não sei se irei. Uma coisa sei: se fôr, seguramente irei executar danças clássicas.
Algumas fotos com a qualidade possível naquela luz suave estão disponíveis no Picasa.

1 de julho de 2010

Novela da Madeira

11 de maio de 2010

A Novela do 2º Regional

Não há coração que resista aos dramas escondidos por detrás das grandes competições. O 2º Regional de Santarém foi o palco de um drama tragi-cómico, contado através de imagens autênticas, que pode seguir em Novela.

Traga o alguidar, que nós fornecemos a faca, e prepare-se para grandes emoções.

9 de maio de 2010

Dança Solidária


Solidariedade...

O Hóquei Clube de Turquel juntou-se aos que se preocupam, e organizou no dia 9 de Maio um festival de solidariedade em prol da Madeira, Haiti e Chile.

Nós dançámos.

Os amigos também - obrigado.

A solidariedade ficou quase confinada a Turquel

7 de abril de 2010

A Cicatrização Social

A informação que coloquei no fórum Dança Desportiva sobre a iniciativa “Dança Solidária” mereceu um comentário de André Lopes que me suscitou alguma reflexão.

Trata-se de uma opinião aceitável, mas que ilustra na perfeição alguns mecanismos da mente humana, que todos usamos, de forma intuitiva e sem ter em conta o que revelam.

Diz o nosso amigo que a nossa iniciativa pode ser prejudicada por já muitas terem surgido com as mesmas intenções. Tem razão.

Todos nós usamos um mecanismo de cicatrização social idêntico ao da cicatrização física.

Em caso de lesão física acorrem imediatamente ao local afectado todos os meios de defesa do organismo, automaticamente mobilizados, e com uma intensidade que pode gerar aumento de temperatura – febre. O processo de cicatrização inicia-se de imediato, primeiro estancando hemorragias, depois cobrindo a parte afectada, e finalmente substituindo tecidos danificados.

Socialmente agimos da mesma forma: perante um grave acidente social, toda a gente, por impulso se sente motivada a “fazer qualquer coisa”, em socorro do tecido social lesionado. Pode instalar-se uma febre solidária, capaz de levar no imediato aos maiores sacrifícios e níveis de generosidade.

Passado pouco tempo, apenas os meios organizados de defesa ficam a cumprir a sua missão, a temperatura social arrefece, e o processo mental “Já demos”, mesmo por parte de quem nada fez ou deu, e se limitou a uma maior ou menor ligação emocional com os acontecimentos, acelera a cicatrização das emoções e o virar de atenções e preocupações para outros assuntos.

Todos temos a consciência (se e quando nos dispusermos a pensar nisso), que o muito que se tenha feito nada resolve e apenas mitiga um pouco das carências geradas. No entanto, o processo de cicatrização social já nos libertou dessa “lesão”, e a simples referência a ela começa a tornar-se incómoda.

É um processo que pode parecer duro e egoísta, mas, tal como a cicatrização física é vital para a saúde, a cicatrização social acaba por ser importante para a regeneração da normalidade social, e a preservação da saúde colectiva indispensável para poder reagir a qualquer nova agressão que aconteça – e acontece com frequência.

Tem, assim, um mérito acrescido uma acção generosa “fora de prazo”, ou seja, que não se limite a satisfazer impulsos e resolver problemas que estão na moda, mas que se preocupa com questões graves que apesar de terem passado de moda, inclusivamente na pressão mediática dos telejornais, estão muito longe de solucionadas. Por isso, embora entendendo as reservas de André Lopes não desistimos.

Já não concordo com a sugestão de mudarmos de objectivo, passando a tentar angariar fundos para a promoção da dança. Nem vou ao ponto de comparar a dimensão humana dos dois tipos de objectivos, apenas a constatação da falta de sentido da sugestão. A dança é uma arte que proporciona espectáculo, e, portanto, se promove a si própria. A melhor, ou talvez única medida de promoção da dança é… dançar.

O nosso amigo André não se apercebeu do essencial: esta iniciativa em prol de pessoas em dramáticas dificuldades é, no fundo, e na sua essência, uma iniciativa de promoção da dança.

Haverá maior forma de promover uma modalidade frequentemente criticada por ser vivida por gente tida por vaidosa e egocêntrica, do que mostrar que vemos mais que o nosso umbigo, e que somos capazes de nos unir e sacrificar por uma causa alheia?

Haverá melhor promoção da dança do que dançar, e bem, não pelas nossas classificações, mas porque podemos ser úteis a quem precisa?

Dia 9 de Maio vamos dançar. Com duplo prazer.

5 de abril de 2010

Receita para um Dançarino

Dum antigo livro de culinária que encontrei num alfarrabista da rua da Portas de Santo Antão retirei uma curiosa receita:

Receita para um dançarino de sucesso

Escolhe-se um jovem tenro e bem proporcionado, sem manchas nem sinais de deterioração.
Polvilha-se com pó de narciso, de ambos os lados, até ficar bem coberto todo em volta.
Vai a cozinhar em molho de treino, lenta e suavemente até ficar bem apurado. Se for preciso, ir adicionando mais molho.
Nunca acompanhar com arroz ou batata frita – seleccionar uma dançarina de dimensões e formas compatíveis, preparada segundo a mesma receita, e dispor harmoniosamente o conjunto no meio do prato.
Enfeitar com confit de lantejoula, e servir rodeado de muitas palmas.

Notas – Diversos cozinheiros usam receitas um pouco diferentes, mas os resultados não são tão bons.
Alguns não seleccionam o dançarino, cozinhando a eito. O resultado é um prato do tipo farta-brutos, sem apresentação nem harmonia. Há, até, quem tente cozinhar dançarinos muito maduros; é tempo perdido – aguentam os primeiros calores, mas a maioria, mal atinge o chamado ponto Open, desfaz-se rapidamente.
Outros cortam no pó de narciso. Não é um desastre, mas nunca se obtém a textura delicada e fofa que só o narciso assegura.
Há ainda quem poupe no molho de treino – resulta num prato deslavado, sensaborão, quase cozinha de tropa.
O único ingrediente eventualmente dispensável é o confit de lantejoula, pelo que é geralmente usado apenas na alta cozinha.
Não negligenciar o acompanhamento de palmas – um par de dançarinos, sozinho no meio do prato, é uma imagem desoladora, que não prestigia nem gratifica o trabalho do cozinheiro.


Mais "molho" em receita